terça-feira, 8 de dezembro de 2009

filme: BARFLY, Barbet Schroeder


Demorei a gostar dos escritos de Charles Bukwoski. Quando li o “Cartas na rua”, confesso que não me animei. Acontece que este, naquela época, para o meu gosto, não era dos melhores livros, tampouco eu era uma leitora que não estranhava o novo, ao invés de saboreá-lo. Mas isso mudou... Eu me aperfeiçoei como leitora e os poemas de Bukowski, assim como sua ácida prosa, me pegaram de jeito.

Assisti Barfly há tantos anos que nem sei quando. Acho que o filme chegou às locadoras porque alguns pensaram que seria mais um “9 semanas e ½ de amor” (Nine ½ Weeks/1986 – Adrian Lyne), já que Mickey Rourke era ator principal em ambos. E digo isso porque encontrá-lo é uma batalha. Ele sumiu das prateleiras, virou item de colecionador.

Eu gostava do Mikey Rourke por conta de filmes como “O selvagem da motocicleta” (Rumble Fish/1983 – Francis Ford Coppola) e “Coração Satânico” (Angel Heart/1987 – Alan Parker), este lançado no mesmo ano de Barfly, que decidi assistir porque vi que o roteiro era de Charles Bukowski. Meu gostar do autor foi homeopático, como que aprecia um bom vinho, não deseja que uma canção chegue ao fim, que a noite termine.

“Barfly” que ganhou subtítulo no Brasil, “Condenados pelo vício”, é uma semi autobiografia de Charles Bukowski, e acredito que outro ator não contaria essa história com tanta propriedade quanto Mickey Rourke. O grau de comprometimento do personagem Henry Chinasky com seu próprio vício, o fato de um bar ser praticamente a casa dele, o amor psicodélico e ébrio por Wanda, e a forma como lida com o próprio talento de poeta nato, fazem deste personagem a pessoa que encontramos nas obras de Charles Bukowski.

O roteiro de “Barfly” foi encomendado a Charles Bukowski pelo diretor do filme, Barbet Schroeder. Wanda Wilcox (Faye Dunaway) interpreta a mulher por quem Henry Chinasky (Mickey Rourke) se apaixona. Adoro Faye nesse papel...



O filme também é classificado como comédia, mas eu não consigo vê-lo dessa forma: uma simples comédia com toques de drama. Para mim, “Barfly” é uma daquelas obras de arte que tentam e quase conseguem traduzir a arquitetura da nossa humanidade. E são justamente suas imperfeições que mais gritam e embelezam a obra.