segunda-feira, 19 de abril de 2010

filme: APENAS UMA VEZ, John Carney

Um filme é feito de cenas. É assim que o roteirista o concebe. Quando se aprende a fazer roteiro, se é orientado a pensar cada cena como um pequeno filme, com começo, meio e fim, mas isso não é muito fácil de conseguir. Mesmo um bom filme nem sempre tem boas cenas. O conjunto se sobressai mais do que as partes. Há filmes que, mesmo não sendo muito bons, têm cenas memoráveis. E há aqueles filmes, maravilhosos, que são lindos em sua totalidade e ainda possuem cenas incríveis que poderiam funcionar como curtametragens.

No belíssimo filme "Apenas uma vez" ("Once", 2006), um tocador de rua e uma vendedora de flores se encontram e estabelecem uma amizade musical. Se existe qualquer romantismo no ar, é muito, mas muito platônico. São pessoas simples, com seus pequenos e médios problemas, que encontram na música uma forma de transcendência. Sozinhos, eles já fazem isso. Quando se encontram, seus momentos se transformam numa espécie de paraíso musical, como nesta cena, inesquecível, em que os dois tocam na hora do almoço em uma loja de instrumentos musicais. (Coloque o vídeo em tela cheia e abra seu coração para um momento simples e encantador.)


Filme "Apenas uma vez" - cena da loja musical ("Once" movie - Music Store Scene) from Eduardo Loureiro Jr. on Vimeo.

O que chama a atenção em "Apenas uma vez", que passa longe de ser uma superprodução, é a intimidade que ele cria com quem está assistindo. Somos fisgados não por uma forte emoção cheia de efeitos especiais, mas por uma emoção terna, familiar, que nos liga aos músicos, que nos faz sorrir quando eles sorriem e que nos deixa com uma enorme saudade quando o filme acaba. Um filme de adultos que nos deixa feito criança, querendo vê-lo de novo imediatamente, repeti-lo vez após vez, até decorá-lo, guardá-lo de cor, no coração.