segunda-feira, 18 de outubro de 2010

filme: DE ENCONTRO COM O AMOR, Brad Mirman

Desde que coloquei os meus olhos no Joshua Jackson, ele menino de tudo, eu soube que seria fã dele. Não por ele estar em algum blockbuster, porque na época eu acompanhava a série Dawson’s Creek, que não era das minhas preferidas, mas que me levava a assistir o próximo capítulo não pelo seu protagonista, mas pelo amigo dele, aquele rebelde, fora do contexto, nada certinho, o Pacey.

Joshua pode ter engatado a carreira por conta de Dawson’s Creek, mas ele tem se mantido pelo talento que tem, participando de projetos diversificados, entre eles Sociedade Secreta (The Skulls/2000 - suspense), Americano (2005 - aventura) e Imagens do Além (Shutter/2008 - terror).

Atualmente, além de atuar no cinema, ele é Peter Bishop, na série que tem conquistado cada vez mais o público, Fringe.

Eu prefiro (pra variar) o título original do filme “De encontro com o amor”, isso porque o romance é um dos temas, mas não o principal. Lançado em 2005, escrito e dirigido por Brad Mirman, The Shadow Dancer conta a história de Jeremy Taylor (Joshua Jackson), um escritor que busca pela inspiração, pela linguagem própria. Ele é designado a convencer seu ídolo, Weldon Parish (Harvey Keitel), a assinar um contrato de edição, depois de anos sem publicar.

Harvey Keitel está maravilhoso no papel de um escritor que enfrenta um sério bloqueio criativo, e o encontro dele com o escritor iniciante gera uma serie de transformações, em ambos.

“De encontro com o amor” é muito bem escrito, tem um cenário belíssimo, e conta com ótimas interpretações. Fica a dica para quem aprecia a mistura de drama com romance.

domingo, 5 de setembro de 2010

filme: CHICO XAVIER, Daniel Filho

Passei um tempo, um bom tempo, sem ver filme brasileiro. Filme histórico, de época, biográfico ou adaptação literária então, esses eu nem me dava ao trabalho de me informar mais sobre. Porém, desde Central do Brasil, voltei a ver os filmes nacionais, que melhoraram bastante tanto tecnicamente quanto ao que se refere ao roteiro. Hoje em dia, filme se parece com filme no Brasil. Antigamente parecia outra coisa.

Essa semana, vi "Chico Xavier", do Daniel Filho. Eu já havia lido o livro "As vidas de Chico Xavier", de Marcel Souto Maior, sobre o maior médium do Brasil. O livro é muito bom! E eu estava com aquele medinho de não achar o filme tão bom. Mas é. É também muito bom. Dá conta da essência do livro e faz modificações importantes que transformam o filme no que um filme deve ser: um filme.

O roteirista, Marcos Bernstein, não à toa o mesmo de Central do Brasil, fez um trabalho primoroso. Em vez de seguir a sequência do livro, ano a ano, fez com que tudo se passasse numa noite, a noite em que Chico Xavier foi entrevistado no programa Pinga-fogo da TV Tupi. A vida de Chico Xavier é apresentada em flashback, de acordo com as respostas que ele dá aos entrevistadores. Além disso, o roteirista escolheu um segundo fio condutor para a história: o drama pessoal do diretor do programa, e de sua esposa, cujo filho foi morto por um amigo. Ficamos então ligados por duas histórias: a de um casal em crise, devido à morte do filho, e a de Chico Xavier, um homem enfrentando as dificuldades de manter contato com espíritos. As duas histórias vão se cruzando até um desfecho emocionante. O que, no livro, era uma entre tantas histórias, veio para o primeiro plano, transformando o livro no filme. Maravilha de adaptação.

Outra decisão acertada foi evitar o didatismo, a doutrinação. Isso foi conseguido ao colocar várias das respostas de Chico Xavier em segundo plano, como som de fundo de uma televisão, enquanto a gente acompanhava a vida do casal aflito. A fala de Chico Xavier não apareceu como um sermão espírita, ao qual se deve prestar toda a atenção. A fala faz parte das outras falas da vida, o que, paradoxalmente, reforça ainda mais sua mensagem.

Para finalizar o filme, enquanto passam os créditos, podemos ver trechos do programa original, ou seja, o próprio Chico Xavier falando, o que nos chama a atenção para o belo trabalho que fizeram os atores Ângelo Antônio e Nelson Xavier, que interpretaram o Chico Xavier adulto.

Um filme bonito, emocionante e inspirador, ainda melhor que o livro em que se baseou, o que é um caso raro e digno de apreciação.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

filme: TINHA QUE SER VOCÊ, Joel Hopkins


Este é um filme que se aproxima da realidade de muitos que acreditam que já tiveram a chance de amar e ser amado, agora é levar a vida.

Joel Hopkins, o diretor, acredita que é muito mais fácil fazer um filme sobre o romance entre dois jovens, no ápice do apaixonamento, lindos, repletos de esperanças, do que falar de amor quando já se passou dos quarenta, a mortalidade é altamente questionada, e há ex-esposa, filhos, ou um histórico familiar onde constam os atributos de uma solterice melancólica. Sendo assim, "Tinha que ser você " (Last Chance Harvey - 2009) é um filme com uma trama que pede muito mais esforço para ser contada com originalidade.

Emma Thompson adorou trabalhar com Dustin Hoffman em “Mais estranho que a ficção” (Stranger than fiction – 2006), mas a participação dele foi pequena, e ela desejava um novo projeto, no qual eles pudessem interagir e construir uma história.

As diferenças entre os personagens de Emma e Dustin são tantas, físicas e sociais. Porém, quando olhamos o cenário geral, percebemos o emocional da trama, percebemos que as diferenças não são tão poderosas quando o desejo de se abrir para o amor que eles já desejam secretamente, pois estão certos de que jamais o terão.

Um compositor de jingles desempregado e frustrado porque queria mesmo era ser pianista de jazz. Uma funcionária do Departamento de Estatísticas Nacionais que trabalha no aeroporto, que cuida de uma mãe que se aproveita do fato de ela não ter sua própria família para mantê-la por perto. Dizem que o amor pode nos levar às escolhas mais malucas, mas, certamente, às vezes ele nos faz compreender que é preciso amadurecer nossos desejos para ser capaz de aproveitar o sentimento oferecido. E este filme, de uma forma muito bonita, nos leva à tal compreensão.


terça-feira, 22 de junho de 2010

filme: LEMBRANÇAS, Allen Coulter


Eu assisti apenas ao primeiro filme da saga vampiresca, e isso não me tornou um dos milhares de fãs do ator Robert Pattinson. O que me levou a assistir ao Lembranças (Remember me/2010) foi uma matéria sobre o filme, que assisti na televisão, e as presenças de Chris Cooper e Lena Olin, dos quais aprecio muito o trabalho.

A trama gira em torno de Tyler Roth (Pattinson), um jovem melancólico, que ainda não conseguiu se recuperar do suicídio do irmão. O relacionamento com o pai Charles Roth (Pierce Brosnan), um importante empresário, é a zona de conflitos. A distância entre eles se tornou ainda maior, depois da morte de Michael.

Ally (Emily de Ravin) é uma jovem que assistiu ao assassinato da mãe, em uma estação de metrô, ainda menina. Seu pai, Neil Craig (Chris Cooper), é um policial atormentado com a morte da esposa. Quando Ally e Tim se encontram, ambos começam a perceber que a vida pode ser menos dolorida do que vem sendo.

Lembranças é um filme denso, mas delicado em muitos aspectos. As emoções desencontradas que permeiam o relacionamento entre Ally e Tyler, assim como a carga emocional que Pattinson e Ravin emprestam aos seus personagens, fazem com que a simplicidade da leveza que alcançam, em alguns momentos da trama, mostre a importância de se desapegar da sensação de solidão completa.

É uma história difícil contada com a sutileza necessária para que nós, os espectadores, possamos compreender a sua beleza. E sim... Robert Pattinson está muito bem no filme. É um bom ator que, espero, escolha outros papeis como o de Tyler Roth para viver.



quarta-feira, 9 de junho de 2010

livro: A DANÇA DOS DEUSES, Hilário Franco Júnior

Sei que é arriscado, e talvez não muito correto, indicar um livro antes de tê-lo concluído, mas há precedentes: não preciso esperar o sol terminar de se pôr para indicá-lo para alguém. Sim, eu sei que o pôr-do-sol se acaba e que o livro continua disponível, mas no dia seguinte também temos um novo pôr-do-sol. Muitas vezes a graça está em compartilhar o momento, e não quero que vocês percam a chance de ler este livro no momento mais propício, já que o momento só se repetirá daqui a quatro anos, na Copa do Mundo do Brasil.

Não se assustem por ser um livro sobre futebol. Claro que o futebol é muito melhor jogado ou assistido, mas ele lido também pode ser muito bom, como já o demonstrou antes o Eduardo Galeano com o seu "Futebol ao sol e à sombra". O livro de Galeano lidava mais com o pitoresco, já "A dança dos deuses — futebol, sociedade, cultura", do Hilário Franco Júnior, tem uma abordagem mais densa, digamos assim.

O livro é dividido em duas partes. Na primeira, é feita uma história mais cronólogica do futebol, indicando os jogos que lhe deram origem e a forma como foi se constituindo o futebol como o conhecemos hoje. Hilário analisa o desenvolvimento do futebol na Europa e no Brasil, fazendo articulações com a história de cada um.

Na segunda parte, a abordagem é temática, tratando de aspectos sociológicos, antropológicos, psicológicos, religiosos e linguísticos do futebol. A leitura se torna mais leve, as páginas passam mais rápido e, no exercício das várias metáforas do futebol, a gente sente um certo gostinho da emoção que é própria ao esporte.

Leiam esse trechinho em que é feita uma associação do futebol com a dança:
"Na Europa medieval, em certos momentos do calendário litúrgico havia danças inclusive no interior das igrejas. Como a hieraquia eclesiástica temia, contudo, que a sensação algo hipnótica dos movimentos rítimocos levasse ao estado de transe e assim à comunicação direta com Deus, a partir do século XVI a dança passou a ser reprimida. A longo prazo, a supressão de danças sagradas contribuiu para a crise espiritual do Ocidente no século XIX, como Nietzsche percebeu. Não se poderia, então, formular a hipótese ousada, mas talvez fecunda, de que se o futebol surgiu naquele momento foi como resposta espontânea àquela falta?" [pág. 224]

Fica então o convite para, entre um jogo e outro desta Copa do Mundo da África, vocês me acompanharem na leitura deste livro que dança com as palavras e com a ideia que temos do futebol.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

filme: NÃO POR ACASO, Philippe Barcinski


Um casal de amigos me indicou. Eu já ouvira falar sobre ele, mas eu demoro um pouco para engatar o desejo de assistir filmes, enquanto eles ainda estão sendo comentados. Depois que perdi a chance de assisti-los no cinema, eu espero. Tenho esse timing esquisito quando se trata de filmes.

“Não por acaso” (2007) é um filme sobre mudanças que nos tiram a segurança das certezas e da metodologia com a qual seguimos com nossas vidas, quando pensamos que manter as coisas como são, e acreditar que nada poderá mudar isso, é uma escolha.

Ênio (Leonardo Medeiros) é um engenheiro de trânsito que comanda o fluxo dos automóveis na cidade de São Paulo. Ele vê a sua vida mudar, após a morte da ex-mulher, Mônica (Graziella Moretto) o que o leva a ter de se aproximar e conviver com a filha adolescente, Bia (Rita Batata).

Pedro (Rodrigo Santoro) é dono de uma marcenaria especializada na fabricação de mesas de sinuca. Também jogador de sinuca, após a morte da namorada, Teresa (Branca Messina) tem de encarar a insegurança profissional e o envolvimento com uma mulher, Lucia (Letícia Sabatella).

Dirigido por Philippe Barcinski, também co-autor do roteiro, a beleza de “Não por acaso” está na cadência das perdas e na reinvenção dos personagens. Leonardo Medeiros e Rodrigo Santoro tecem muito bem essa história, com toda densidade que cabe na interferência do destino nas biografias dos personagens. Quem pensa que a vida está pronta quando ela é organizada e previsível, apenas engana a si mesmo. Somos todos passíveis das mudanças, mesmo quando não as previmos ou desejamos.

“Não por acaso” foi uma grata surpresa. É um filme que tem seu próprio tempo, que nos deixa em suspenso ou simplesmente reflexivos, em determinados momentos. A fotografia é intrigante, como a própria cidade, o roteiro está muito bem amarrado, tornando a ligação entre os personagens importante para a compreensão da trama.



Fotos: Marcos Camargo


quarta-feira, 19 de maio de 2010

disco: CALMARIA , Vavá Ribeiro

Discos perfeitos são aqueles em que todas as músicas são boas, com direito a algumas obras-primas. Discos perfeitos são aqueles que a gente ouve, vez após vez, por dias sem fim. Discos perfeitos são aqueles que a gente reencontra, anos depois, e eles continuam causando impacto profundo na gente. Disco perfeito é "Calmaria", de Vavá Ribeiro, cantor e compositor piauiense.

As letras, a maioria de amor, são lindas: "Quando eu chegar na Frei Serafim, laços de fita, meu bem, acene pra mim. Não quero dinheiro, mas me vendo por inteiro, pois seu beijo é um pretexto pra eu ficar no Piauí" [Calmaria]; "Asas para o que restou. Pé na escada, no elevador. Pra ficar tudo leve, num tempo breve, de todo estresse do que me fere, que me repele" [Nau Cometa]; "Bem, abre a porta, por favor, que eu já fechei meu olhinhos e voei. Já contei mil carneirinhos pela estrada, eu já fiquei alhures por toda a madrugada. Que bom chegar em casa agora e te ver dormir" [10 pras 11 (Na Central)].

Os arranjos são maravilhosos: dá pra dançar, da pra escutar atentamente, dá pra viajar. Seja como música ambiente, seja como curtição de dor de cotovelo, seja como presente de recém-apaixonado, "Calmaria" é um CD incrível do primeiro ao último acorde. Mas já estou falando demais: escutem um pouquinho dessa calmaria deliciosa de Vavá Ribeiro, na companhia de Soraya Castelo Branco, com a canção "Mas eu quero".



Como não encontrei uma indicação de onde comprar o CD, deixo aqui o link para baixar "Calmaria" via internet.