Passei um tempo, um bom tempo, sem ver filme brasileiro. Filme histórico, de época, biográfico ou adaptação literária então, esses eu nem me dava ao trabalho de me informar mais sobre. Porém, desde Central do Brasil, voltei a ver os filmes nacionais, que melhoraram bastante tanto tecnicamente quanto ao que se refere ao roteiro. Hoje em dia, filme se parece com filme no Brasil. Antigamente parecia outra coisa.
Essa semana, vi "Chico Xavier", do Daniel Filho. Eu já havia lido o livro "As vidas de Chico Xavier", de Marcel Souto Maior, sobre o maior médium do Brasil. O livro é muito bom! E eu estava com aquele medinho de não achar o filme tão bom. Mas é. É também muito bom. Dá conta da essência do livro e faz modificações importantes que transformam o filme no que um filme deve ser: um filme.
O roteirista, Marcos Bernstein, não à toa o mesmo de Central do Brasil, fez um trabalho primoroso. Em vez de seguir a sequência do livro, ano a ano, fez com que tudo se passasse numa noite, a noite em que Chico Xavier foi entrevistado no programa Pinga-fogo da TV Tupi. A vida de Chico Xavier é apresentada em flashback, de acordo com as respostas que ele dá aos entrevistadores. Além disso, o roteirista escolheu um segundo fio condutor para a história: o drama pessoal do diretor do programa, e de sua esposa, cujo filho foi morto por um amigo. Ficamos então ligados por duas histórias: a de um casal em crise, devido à morte do filho, e a de Chico Xavier, um homem enfrentando as dificuldades de manter contato com espíritos. As duas histórias vão se cruzando até um desfecho emocionante. O que, no livro, era uma entre tantas histórias, veio para o primeiro plano, transformando o livro no filme. Maravilha de adaptação.
Outra decisão acertada foi evitar o didatismo, a doutrinação. Isso foi conseguido ao colocar várias das respostas de Chico Xavier em segundo plano, como som de fundo de uma televisão, enquanto a gente acompanhava a vida do casal aflito. A fala de Chico Xavier não apareceu como um sermão espírita, ao qual se deve prestar toda a atenção. A fala faz parte das outras falas da vida, o que, paradoxalmente, reforça ainda mais sua mensagem.
Para finalizar o filme, enquanto passam os créditos, podemos ver trechos do programa original, ou seja, o próprio Chico Xavier falando, o que nos chama a atenção para o belo trabalho que fizeram os atores Ângelo Antônio e Nelson Xavier, que interpretaram o Chico Xavier adulto.
Um filme bonito, emocionante e inspirador, ainda melhor que o livro em que se baseou, o que é um caso raro e digno de apreciação.
domingo, 5 de setembro de 2010
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Um comentário:
Eduardo, bela resenha do filme "Chico Xavier"! Você explorou o que nele há de mais importante, e fez um comentário apropriado sobre o aperfeiçoamento do cinema no Brasil, que só de pouco tempo pra cá se profissionalizou de fato. Continue!
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